Conclusões
Alemanha Ano Zero
O fascínio exercido pelas ruínas e cenários pós-catástrofe sobre artistas desde a Renascença encontrou forte ressonância entre os cineastas no século XX. Não mais na forma de culto romântico, mas como palco de dramas humanos ou estímulo à imaginação fantasiosa.
O cinema reagiu primeiro às guerras mundiais, encontrando nas cidades devastadas a locação ideal para propor reflexões acerca da história, do tempo e dos efeitos dos conflitos sobre as populações. O neorrealismo italiano, especialmente com Rossellini e sua Trilogia da Guerra, foi fruto e gênese de uma nova dramaturgia das ruínas. O cinema alemão do pós-guerra chegou a criar um gênero a partir dos escombros, o Trummerfilm.
A partir daí, surgiram, em várias partes do mundo, filmes voltados para os vestígios de vida e civilização em locais abalados por guerras, desastres naturais e industriais, acidentes radiativos, etc. Os filmes sobre a destruição ou inundação de cidades para a construção de barragens forjaram uma espécie de subgênero dentro do cinema pós-catástrofe.
Na pesquisa para este site-livro examinei exemplos diversificados, nos quais os cenários deixados por catástrofes recentes em relação à produção dos filmes estiveram no centro ou em porções importantes das obras. Verifiquei que, apesar do teor trágico, não faltaram abordagens cômicas, românticas ou meramente oportunistas. No caso da II Guerra Mundial, a perspectiva dos vencedores se expressava claramente no olhar de superioridade, ironia ou compaixão pelos derrotados.
Ficou claro, ainda, que a catástrofe é muitas vezes encarada não apenas como o fim de um espaço, um tempo ou um modo de vida, mas também como um ponto de recomeço e reconstrução. Toda catástrofe é também um "ano zero".
A divisão que propus entre o Modo referencial e o Modo ressignificante serviu para evidenciar o tratamento multifacetado que os cineastas deram ao tema. As paisagens do fim foram usadas como cenário de fabulações acautelatórias, de fantasia interplanetária ou de simples metáforas poéticas ao gosto do freguês.
No visionamento dedicado dos 47 filmes abordados, saltou aos olhos a recorrência de uma série de procedimentos de linguagem e elementos de conteúdo, os quais reuni visualmente no capítulo Cinegrafia recorrente. Vale como uma demonstração de que certos universos temáticos geram formas específicas de apreensão pelas câmeras e recorrem a ingredientes dramatúrgicos que lhes são próprios.
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